03 abril 2010

RAIZES

Escrito por Marcos em 2006

José Macário de Brito, nosso Pai, nascido em Crato e criado na fazenda malhada, se acostumou desde criança a ter responsabilidades em suas tarefas, desenvolvendo amor pela terra. Formou-se como Engenheiro Agrônomo, da turma de 1945 da Universidade Federal do Ceará, e por cerca de 40 anos chefiou, de maneira exemplar, os Postos Agrícolas de Pilões, no sertão paraibano, Lima Campos, no alto sertão cearense e o Açude de Cedro, em Quixadá/CE, todos no perímetro das secas, pertencentes ao DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). Papai, o Dr. Macário era enérgico, sabia fazer e comandar os seus funcionários e além da agronomia entendia também de mecânica, eletricidade e veterinária. Um tanto místico era considerado nas regiões por onde passava como o “profeta das chuvas” e mesmo à frente do seu tempo, procurava tirar lições do passado. Embora sábio e culto, foi um exemplo mudo para os seus filhos, pois privilegiava a ação em detrimento das palavras. Percebe-se nesta foto o seu olhar para o futuro, mas faleceu aos 64 anos quando se preparava para se aposentar e voltar às origens, cuidar da sua fazenda e ter mais tempo para conversar com a sua família.

Zita Neves Aires de Brito, nossa Mãe.
Escrito por Marcos, nas comemorações do aniversário de 80 anos dezembro de 2006.
Observando este retrato destaca-se o seu olhar expressivo, que revela harmonia interna e transmite confiança no futuro. Com múltiplas missões, sua vida tem sido caracterizada por aceitar e cumprir desafios. Preparou-se para ser professora normalista, mas seu inicio de vida em Pilões, no sertão da Paraíba, fora da civilização, juntamente com Badé e papai, foi um duro teste de grandeza para um ser humano.
Nunca se abalou e se acostumou a enfrentar e a resolver, serenamente os problemas do seu dia-a-dia, mesmo que para tanto, por vezes colocou a sua vida em risco. Lembramos, nós os filhos do sertão, que o nosso nascimento em Pilões, assistido por parteira, ou na maternidade do Crato, dependia do inverno ou da falta de chuva, pois ela teve de ultrapassar rios ou de enfrentar longas viagens de trem, às vezes em pleno trabalho de parto. A tranqüilidade do nosso pai, a confiança dele em seu santo padim Padre Cícero e em outros santos da sua convicção e o apoio incondicional de Badé, durante essas aventuras, certamente minimizava as suas preocupações. Com uma vida simples e limitada, no isolado sertão da Paraíba, tinha como meta o nosso futuro profissional.
Enquanto cuidava do crescimento saudável dos filhos, agora em melhores condições de estudo em Quixadá, teve a paciência e a habilidade de convencer o nosso pai de transferir a família para Fortaleza e isto somente foi possível, pois eles contavam com a presença equilibrada de Badé. Enquanto isso, os filhos conviviam com as pedras, muitas pedras, mas de repente a água doce se tornou salgada e aquele grande açude se tornou pequeno diante do mar, ou seja, passamos a outra dimensão em relação à vida e essa foi mais outra lição que aprendemos. Depois de tanta luta para formar e encaminhar com sucesso os oito filhos para a vida, Zita agora tem o prazer de compartilhar a amizade e a gratidão dos filhos, mas ao mesmo tempo lembra com muita saudade a perda de Vovô, de Papai e de Badé. Esta dura lição de que a vida não é eterna, pelo menos no plano material em que a matéria é reciclada, ela certamente quer evitar... Assim, revendo as fotos deste álbum, Zita demonstra certezas e expectativas: certezas da missão cumprida e expectativas de vida longa, que também é o que todos nós desejamos.

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