Eu caminhava pela estrada e sentia um grande cansaço nas pernas, não aguentava mais, queria pedir ajuda, mas não havia ninguém. Sentia meu corpo febril e uma fraqueza geral. Já não tinha ânimo para continuar a caminhada e via os últimos raios de sol se escondendo atrás das montanhas. Eu não tinha ideia de quanto tempo ainda faltava para a pousada. Eu precisava chegar lá antes do anoitecer. Eu havia demorado demais no caminho.
O cansaço foi minando minha energia e a noite chegara. Já não conseguia enxergar a estrada, até que tropecei e caí. Senti o corpo inteiro doendo e fiquei deitado no chão, sem vontade de me levantar. Comecei a chorar, senti-me abandonado. Me arrependi de estar fazendo aquela caminhada espiritual tão longe de casa, no Caminho da Fé, e agora eu estava ali em plena Serra da Mantiqueira, sul de Minas, caído no chão, com fome, sem ter a quem recorrer. Senti saudades de casa, da minha família e da minha cama confortável. Já não tinha mais noção de quanto tempo, eu estava ali, esmorecido, perdido em pensamentos, não tinha mais forças nem pra chorar, embora sentisse as lágrimas escorrendo.
Subitamente senti algo se aproximando de mim. Me assustei e o sangue gelou nas veias, era um animal, parecia um coiote, mas não podia ser, eles não existem no Brasil. Ele cheirou-me o rosto. Senti o seu focinho e o seu hálito na minha cara. Fechei os olhos e imóvel, me entreguei, pois já não havia nada que eu pudesse fazer.
O coiote começou a lamber as minhas lágrimas. Eu entrei num estado de torpor e comecei a sentir meu corpo leve e flutuando. Vi o coiote correndo numa imensa planície e senti a vegetação tocando o seu corpo. Eu era o coiote e corria mais veloz que o vento. Fui tomado por um sentimento de paz profunda, que parecia não ter fim…
Senti meu corpo dolorido ao me movimentar. Abri os olhos e os raios do sol deixaram-me levemente ofuscado. O orvalho da manhã me trouxe à realidade. Eu dormira na estrada e agora me sentia bem, meu corpo estava aquecido. Procurei o meu cajado e me apoiei nele para me levantar. Nesse momento avistei a pousada de apoio aos peregrinos, a fumaça saindo pela chaminé, me fez pensar que ali estava sendo preparado um delicioso café da manhã. Apressei o passo, lembrando que ainda teria dois ou três dias de caminhada até o santuário de Aparecida. Senti-me fortalecido e amparado.
Lembrei do coiote… Teria sido um sonho? Ou fui tocado pelo sagrado?
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