19 outubro 2011

AMIGO DAS ARTES
Queria ser cantor e até cantou quando jovem. Fez algumas serenatas, mas por exigência do bom senso e insistência dos amigos, desistiu, preferindo fazê-las à base da radiola – coisa que os mais novos terão que perguntar aos pais e avós do que se trata. Pensou ser Poeta e as rimas teimavam em tropeçar no seu juízo e se distanciar a cada tentativa. Nada, porém, o impedia de sonhar seu sonho: estava convicto de que seu caminho seria a arte. Comprou tintas, pincel e telas, achando que pintar era apenas juntar telas, pincel e tintas e sair derramando cores, lambuzando o branco. Numa manhã, já quase desistindo da vida artística, apareceu-lhe a oferta de emprego como projecionista de filmes no cinema do bairro onde morava (naquele tempo os bairros tinham cinema). À tarde, aceitou o convite. Na mesma noite quente de um agosto quase virando setembro foi ao Teatro, sentou-se na primeira fila, mas não gostou do show de João Gilberto. O restante da platéia aplaudiu-o de pé. Dia seguinte, na sessão das 7, iniciou sua carreira no cinema. Aposentou-se ano passado.

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