Certa vez, conversando com Lucíola, ouvi a sua história. Quando criança, ela era feliz morando naquele lugar, longe da cidade e perto da natureza. Havia árvores, flores, pássaros e família. A vida era muito tranquila. Ela brincava com sua boneca, que era feita de sabugo de milho.
Sua família era pobre, mas vivia bem, tinham uma casa pra morar. Seus pais plantavam roças e havia alimento para toda família. Como ela dizia, “eramos pobres de dinheiro, mas havia fartura na mesa”.
Lucíola era apegada a sua boneca, com a qual brincava muito e exercitava a sua imaginação e criatividade. Ela contou-me que um dia seus pais se mudaram para a cidade. Ela não queria ir, e no momento da partida ela teve a última visão da sua boneca sob a árvore onde ela havia brincado um pouco mais cedo naquela triste tarde. A “casinha” que ela havia construído com a sua imaginação e algumas pedrinhas, ainda estava lá.
Vi os olhos marejados daquela mulher de quase setenta anos, relembrando da sua boneca e de um momento dramático da sua vida. Ela falou-me que naquele dia, junto com a sua boneca, ficou também a sua alma e a partir dali, ela passou a trazer uma tristeza dentro de si, que muitas vezes, a fez chorar sem motivo aparente, mas que só ela sabia, era a falta da sua alma, que havia ficado embaixo de uma árvore, junto da casinha e da boneca de sabugo de milho, naquele lugar de muitas plantas, pássaros e roças, que ela tanto amava.
Leonardo Bezerra
1 comentários:
Oi Cacainha. Obrigado por publicar essa história. Qdo leio ainda fico com um nó na garganta. Grato. Leo
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