04 julho 2011

 Carta de Mano para Napoleão. Esta carta faz parte de uma série de correspondências entre Mano em Santa Catarina e Napoleão em Barbalha CE.
São José, 19/06/2011.
Prezado Napoleão, um grande abraço.
Eu estava ontem no sítio, em uma noite fria de ceu claro e lembrei-mede vocês. Surgiu uma nova conversa entre Pacha e Urutau, que transcrevo a seguir.
Diálogo II
Olá Urutau, andas desaparecido?
-Pois é Pachá, você sabe que saio em noites de lua cheia, mas essa anda encoberta pelas cinzas de um vulcão no Chile, o que tem sido danoso para mim, pois o ar lá em cima tem cheiro azedo.
- Como assim Urutau?
-Da reação entre sulfeto de hidrogênio -(um dos gases do vulcão) e a água na atmosfera forma-se ácido sulfúrico que corroeu as minhas penas e isso tem sido um grande problema para mim.
- Para mim também Urutau, pois sinto arder o meu focinho, o que prejudica o faro e fica mais difícil caçar preá.
-Pachá, agora me diga como surgiram os preás e enfim, a vida na terra! -Essa é uma pergunta complicada Urutau, mas eu ouvi do Dr. Napoleão que a vida surgiu na água do mar, há cerca de 4 bilhões de anos atrás, quando algas iniciaram o processo de fotossíntese, com liberação de oxigênio molecular para a atmosfera e assim o planeta terra se tornou azul. A evolução continuou da água para a terra, e a cerca de 500 milhões de anos atrás, em um processo lento, chegamos aos seres sexuados e aos
mamíferos, como eu e os preás. Houve a separação do supercontinente Pangea e assim muitos bichos ficaram separados, mas diz o Dr. Napoleão que em cerca de 250 milhões de anos a Europa se unira a África. Portanto, o globo está se movimentando, a lua está se afastando de nós, o planeta está fervilhando por dentro e por isso ocorrem os vulcões, os terremotos e os grandes tsunamis.
- Pachá, você tem notícias de outras explosões vulcânicas?
- Sim, “no dia 27 de agosto de 1883 a ilha de Krakatoa (indonésia) desapareceu, quando um vulcão supostamente extinto entrou em erupção.  Essa explosão é considerada a erupção mais violenta que o homem moderno já testemunhou. Os efeitos atmosféricos da catástrofe, como poeira e cinzas circundando o globo, causaram estranhas transformações em nosso planeta, como a súbita queda de temperatura e transformações no nascer e pôr do sol por aproximadamente 18 meses e levando até anos para voltar ao normal. Todas as formas de vida animal e vegetal da ilha foram destruídas. Por causa das explosões, vários tsunamis ocorreram em diversos pontos do planeta e perto das ilhas de Java e Sumatra as ondas chegaram a mais de 40 metros de altura”.
- Bem Pachá, a conversa está boa, mas por hoje é só e agora vou me abrigar na Chapada do Araripe.
- Boa sorte Urutau, pois segundo o Dr. Napoleão que é o guardião da serra, a natureza por lá está em perigo e por isso estou descendo para o sertão do João Vieira.
Obs.: Diz Mano: Pachá (um cachorro gordão que me acompanhava nas caçadas de preá no antigo João Vieira do Tio Quincas) e Urutau (uma coruja noturna também conhecida como Mãe da lua)), que também temos aqui no sítio e que sai somente em noites de lua cheia.
Marcos Aires de Brito

5 comentários:

Marcos disse...

Sobre Pachá e Urutau

Amigos,

vocês sabem que sou filho do sertão nordestino e já morando em Fortaleza eu costumava passar as férias de final de ano em fazendas no interior do Ceará. Quando não era na Malhada do Tio Mundinho eu ia para o Sertão do Brejo Santo/CE, na Fazenda João Vieira dos saudosos Tios Quincas e Mariinha.

Naquela época existia pelo menos 8 cachorros na fazenda e eles tinham uma certa hierarquia, começando com o Pachá que tinha acesso livre a cozinha e as dependências da casa. Outros cachorros ficavam pelo curral e acompanhavam os vaqueiros, outros pelo redor da casa, etc..

Desde a primeira vez que cheguei a Fazenda João Vieira, fiz amizade com os cachorros, o Tio Quincas me emprestou uma espingarda “soca-soca” e eu saia com 6 cachorros (2 trabalhavam no campo com os vaqueiros), incluindo o Pachá que insistia em me acompanhar. Na verdade esse cachorro me atrapalhava nas caçadas de preá, devido ao seu pouco treinamento para caça, não era preazeiro e sendo muito gordão e pesado, não conseguia pular as cercas de vara, nem encontrava um buraco para passar.

O Pachá era mesmo cachorro de sala e cozinha. Ficava choramingando, querendo passar uma cerca, ficava atrasado na caminhada e eu tinha que retornar para atender ao Pachá! Resultado: eu cuidava mais do Pachá que de caçar preás e quando algum cachorro acuava, lá ia o Pachá na frente requerendo a toca para ele e assim, era comum eu retornar para casa sem preá e às vezes trazendo o Pachá nos braços de tão cansado da caminhada! Entretanto, no outro dia lá estava Pachá me cercando e bastava eu pegar a espingarda que Pachá já ficava balançando o rabo e me chamando novamente para ir caçar preá.

Agora quero fazer uma correção, pois Cacainha postou a foto de uma Coruja Buraqueira e não um Urutau!

Ele também anda lá pelo nosso sítio e depois de muito procurar por ele, finalmente o descobri bem disfarçado, camuflado no toco de uma árvore centenária. Não foi fácil concluir que se tratava de um Urutau, ele estava bem no alto e tive que utilizar toda a minha paciência e experiência de passarinheiro e de mateiro.

Esse foi o caso mais difícil que já enfrentei para identificar “um passarinho”, pois ele canta (assobia) somente à noite, mas como eu costumava visitá-lo durante o dia, para conferir se ele ainda estava naquela árvore (um Cafezeiro do mato), ele se mudou e nunca mais o vi.

Para informações sobre Urutau visite o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Urutau

Marcos, 06/07/2011.

Cacainha disse...

Oi Mano! Dá uma olhada no Blog. Já substitui as fotos. Foi dificil pra eu escolher as fotos pq não conhecia seus personagens.

Marcos disse...

Agora ficou bom Cacainha. Vejam a cara do mandrião Pachá! Essa é, pelas minhas lembranças, a melhor foto para ele. Note que eu uni o Pachá, que conheci no João Vieira, com um Urutau (que conheci em nosso sítio) e a conversa se passa no Saco (o sítio dos Tavares Neves na Serra do Araripe), que eu nem conheço! Pura imaginação de químico doido, como diria mamãe.

Marcos,
07/07/2011

Tânia disse...

Estou gostando, esse blog tá prá lá de bom. Quantas boas lembranças, agora, compartilhada com todos nós. Parabéns Cacainha pela iniciativa de criar o blog e aos seguidores com suas estórias e causos.

Marcos disse...

Tânia e demais seguidores - colaboradores do Blog AH.

Esse é o nosso estilo: informal, verdadeiro e, sobretudo com o espírito de amizade aos seguidores - colaboradores do Blog de Cacainha. Ela solicitou as minhas lembranças e eu as reproduzi em 3 momentos representativos de nossas vidas: em Pilões/PB, em nossa primeira infância; no Açude do Cedro (Quixadá/CE), em nossa adolescência e aqui em Santa Catarina, com os meus filhos. Espero que esses três momentos sirvam para quebrar o gelo e convidar a todos para compartilharem no Blog AH as suas boas lembranças. As duas primeiras a serem publicadas (O aniversário da boneca de Cacainha e Briga de galo) ficaram em aberto, para Cacainha e Tânia, respectivamente, completarem. Se preparem para acompanhar esses 2 casos e para completá-los, pois vocês fazem parte dessa história. Assim, imagino, que o Blog AH poderá se tornar interativo e interessante para todos nós.

Fiquem ligados no AH, pois teremos bons casos, alguns reais e outros imaginados.