Recife, 03 de Setembro de 2007.
Procura-se desesperadamente um patriarca.
O meu não serve.
Um patriarca não pode errar, mas o meu erra. E assume. E acha erro seu até onde não tem. E arruma sempre uma interpretação dos erros dos outros de forma que lhe possa sobrar uma parcela de culpa.
Um patriarca não pode ser modesto. No dicionário, modesto é pouco, e um patriarca tem que ser muito. O meu, desobedecendo mais uma regra, e em mais um paradoxo, tem uma modéstia enorme, sem tamanho.
Um patriarca é, geralmente, o avô. Mas de meus avós eu pouco conheci. Do avô paterno, só as mãos, o jeito de escrever e de ser, que ficaram tão arraigados em meu pai. O meu, você acredita, é um tio?
Um patriarca deve ter autoridade firme, mas o meu é bastante maleável, tanto quanto seus cabelos, com os quais faço diversas esculturas, até deixá-lo parecendo Itamar Franco.
Um patriarca tem que ser sério, irrepreensível. O meu, no entanto, vive a dar risadas, permitindo inclusive advinhações ( o caba deita na rede e drome) e até umas besteiras, de vez em quando.
Um patriarca, obviamente, tem de ser uma figura imponente. O meu não impõe. Demonstra. É um exemplo vivo das maiores lições de moral que poderia dar, se quisesse, mas ele teima em preferir assim: demonstrar.
Um patriarca tem de ter a consciência de sua liderança, de que ocupa o mais alto posto da hierarquia. O meu desce até os mais novos, e escuta com atenção até o que os pirralhos (como eu) têm a dizer. E muitas vezes chega ao disparate de acreditar que pode aprender com eles!
Um patriarca tem que ser um homem complexo, erudito, sofisticado. O meu, ao invés de seguir grandes líders políticos, com sua eloquência e fala prolixa, resolveu seguir uma idéia budista: a maior consequência da sabedoria é a simplicidade. E ele, apesar de tão culto, é simples. No jeito de falar e no jeito de vestir. E, pior, no jeito de pensar.
Um patriarca deve saber de sua importância. O meu, na verdade, não se importa muito com isso, e muitas vezes sequer acredita no tamanho da que tem, ainda que todos não tenham dificuldade alguma de sentí-la.
Um patriarca deve ter uma humildade educada que favoreça sua imagem e reputação. O meu continua destoando, e cultiva, naturalmente, uma humildade verdadeira que só serve para sua própria consciência.
Um patriarca deve ter uma inteligência exuberante, evidente. O meu, apesar de incontestavelmente inteligente, disfarça-a. Principalmente em conversa com aqueles que teriam dificuldade de alcançá-la. E, justamente por isso, sem querer ela sempre aparece, em entrelinhas que impressionam mais do que a maioria dos discursos diretos.
Um patriarca deve ser respeitado, saudado, venerado. Como Aledxandre, o grande, um símbolo único de grandes conquistas. O meu teima em fazer, ele próprio, as reverências... Aos outros! A cada um ele credita um pouquinho de suas vitórias, e, como se fosse pouco, ainda se acha no direito (e dever) de compartilhar todos os seus resultados.
É, meu resultado não serve ( no verbo intransitivo). Ele nasceu, humildimente, apenas para servir (no verbo transitivo direto) a tudo e a todos.
E eu lhe digo uma coisa: se você achar um patriarca que realmente sirva(“intransitivamente”) do jeitinho que um patriarca deve ser, pode ficar com ele para você.
Duvido que, com tudo isso, ele seja melhor do que o meu. Meu Tio Mano.
Duvido.
A morena.
NAIANA BEZERRA DE BRITO.
23 fevereiro 2011
A Procura de um Patriarca
Recife, 03 de Setembro de 2007.
Procura-se desesperadamente um patriarca.
O meu não serve.
Um patriarca não pode errar, mas o meu erra. E assume. E acha erro seu até onde não tem. E arruma sempre uma interpretação dos erros dos outros de forma que lhe possa sobrar uma parcela de culpa.
Um patriarca não pode ser modesto. No dicionário, modesto é pouco, e um patriarca tem que ser muito. O meu, desobedecendo mais uma regra, e em mais um paradoxo, tem uma modéstia enorme, sem tamanho.
Um patriarca é, geralmente, o avô. Mas de meus avós eu pouco conheci. Do avô paterno, só as mãos, o jeito de escrever e de ser, que ficaram tão arraigados em meu pai. O meu, você acredita, é um tio?
Um patriarca deve ter autoridade firme, mas o meu é bastante maleável, tanto quanto seus cabelos, com os quais faço diversas esculturas, até deixá-lo parecendo Itamar Franco.
Um patriarca tem que ser sério, irrepreensível. O meu, no entanto, vive a dar risadas, permitindo inclusive advinhações ( o caba deita na rede e drome) e até umas besteiras, de vez em quando.
Um patriarca, obviamente, tem de ser uma figura imponente. O meu não impõe. Demonstra. É um exemplo vivo das maiores lições de moral que poderia dar, se quisesse, mas ele teima em preferir assim: demonstrar.
Um patriarca tem de ter a consciência de sua liderança, de que ocupa o mais alto posto da hierarquia. O meu desce até os mais novos, e escuta com atenção até o que os pirralhos (como eu) têm a dizer. E muitas vezes chega ao disparate de acreditar que pode aprender com eles!
Um patriarca tem que ser um homem complexo, erudito, sofisticado. O meu, ao invés de seguir grandes líders políticos, com sua eloquência e fala prolixa, resolveu seguir uma idéia budista: a maior consequência da sabedoria é a simplicidade. E ele, apesar de tão culto, é simples. No jeito de falar e no jeito de vestir. E, pior, no jeito de pensar.
Um patriarca deve saber de sua importância. O meu, na verdade, não se importa muito com isso, e muitas vezes sequer acredita no tamanho da que tem, ainda que todos não tenham dificuldade alguma de sentí-la.
Um patriarca deve ter uma humildade educada que favoreça sua imagem e reputação. O meu continua destoando, e cultiva, naturalmente, uma humildade verdadeira que só serve para sua própria consciência.
Um patriarca deve ter uma inteligência exuberante, evidente. O meu, apesar de incontestavelmente inteligente, disfarça-a. Principalmente em conversa com aqueles que teriam dificuldade de alcançá-la. E, justamente por isso, sem querer ela sempre aparece, em entrelinhas que impressionam mais do que a maioria dos discursos diretos.
Um patriarca deve ser respeitado, saudado, venerado. Como Aledxandre, o grande, um símbolo único de grandes conquistas. O meu teima em fazer, ele próprio, as reverências... Aos outros! A cada um ele credita um pouquinho de suas vitórias, e, como se fosse pouco, ainda se acha no direito (e dever) de compartilhar todos os seus resultados.
É, meu resultado não serve ( no verbo intransitivo). Ele nasceu, humildimente, apenas para servir (no verbo transitivo direto) a tudo e a todos.
E eu lhe digo uma coisa: se você achar um patriarca que realmente sirva(“intransitivamente”) do jeitinho que um patriarca deve ser, pode ficar com ele para você.
Duvido que, com tudo isso, ele seja melhor do que o meu. Meu Tio Mano.
Duvido.
A morena.
NAIANA BEZERRA DE BRITO.
Procura-se desesperadamente um patriarca.
O meu não serve.
Um patriarca não pode errar, mas o meu erra. E assume. E acha erro seu até onde não tem. E arruma sempre uma interpretação dos erros dos outros de forma que lhe possa sobrar uma parcela de culpa.
Um patriarca não pode ser modesto. No dicionário, modesto é pouco, e um patriarca tem que ser muito. O meu, desobedecendo mais uma regra, e em mais um paradoxo, tem uma modéstia enorme, sem tamanho.
Um patriarca é, geralmente, o avô. Mas de meus avós eu pouco conheci. Do avô paterno, só as mãos, o jeito de escrever e de ser, que ficaram tão arraigados em meu pai. O meu, você acredita, é um tio?
Um patriarca deve ter autoridade firme, mas o meu é bastante maleável, tanto quanto seus cabelos, com os quais faço diversas esculturas, até deixá-lo parecendo Itamar Franco.
Um patriarca tem que ser sério, irrepreensível. O meu, no entanto, vive a dar risadas, permitindo inclusive advinhações ( o caba deita na rede e drome) e até umas besteiras, de vez em quando.
Um patriarca, obviamente, tem de ser uma figura imponente. O meu não impõe. Demonstra. É um exemplo vivo das maiores lições de moral que poderia dar, se quisesse, mas ele teima em preferir assim: demonstrar.
Um patriarca tem de ter a consciência de sua liderança, de que ocupa o mais alto posto da hierarquia. O meu desce até os mais novos, e escuta com atenção até o que os pirralhos (como eu) têm a dizer. E muitas vezes chega ao disparate de acreditar que pode aprender com eles!
Um patriarca tem que ser um homem complexo, erudito, sofisticado. O meu, ao invés de seguir grandes líders políticos, com sua eloquência e fala prolixa, resolveu seguir uma idéia budista: a maior consequência da sabedoria é a simplicidade. E ele, apesar de tão culto, é simples. No jeito de falar e no jeito de vestir. E, pior, no jeito de pensar.
Um patriarca deve saber de sua importância. O meu, na verdade, não se importa muito com isso, e muitas vezes sequer acredita no tamanho da que tem, ainda que todos não tenham dificuldade alguma de sentí-la.
Um patriarca deve ter uma humildade educada que favoreça sua imagem e reputação. O meu continua destoando, e cultiva, naturalmente, uma humildade verdadeira que só serve para sua própria consciência.
Um patriarca deve ter uma inteligência exuberante, evidente. O meu, apesar de incontestavelmente inteligente, disfarça-a. Principalmente em conversa com aqueles que teriam dificuldade de alcançá-la. E, justamente por isso, sem querer ela sempre aparece, em entrelinhas que impressionam mais do que a maioria dos discursos diretos.
Um patriarca deve ser respeitado, saudado, venerado. Como Aledxandre, o grande, um símbolo único de grandes conquistas. O meu teima em fazer, ele próprio, as reverências... Aos outros! A cada um ele credita um pouquinho de suas vitórias, e, como se fosse pouco, ainda se acha no direito (e dever) de compartilhar todos os seus resultados.
É, meu resultado não serve ( no verbo intransitivo). Ele nasceu, humildimente, apenas para servir (no verbo transitivo direto) a tudo e a todos.
E eu lhe digo uma coisa: se você achar um patriarca que realmente sirva(“intransitivamente”) do jeitinho que um patriarca deve ser, pode ficar com ele para você.
Duvido que, com tudo isso, ele seja melhor do que o meu. Meu Tio Mano.
Duvido.
A morena.
NAIANA BEZERRA DE BRITO.
22 fevereiro 2011
ESCUTANDO O MAR
Ela foi, não havia como deixar de ir. Não queria, mas findou por ir, junto com os pais. O pretexto de conhecer o mar não lhe parecia convincente, mas incontestável se mostrava. Como ficar, sem pai, sem mãe, apenas com ele, seu amor, à espreita, aguardando uma chance? O mar? E ela queria lá saber de mar! Muito mais lhe aprazia os carinhos recebidos e testemunhados pela lua, só por ela. Mas estava lá o mar à sua frente, sem graça, totalmente imenso e insosso, uma coisa grande mas sem sal. De nada teria valido aquela paisagem não fossem as conchinhas recolhidas na areia para ofertá-las, como presente, quando voltasse. Ao recebê-las, ele levou aos ouvidos o presente e, da conchinha mais bonita, ouviu o mar, distante. Beijou-as, a concha e quem a trouxe de tão longe. Ela adorou ter visto o mar. Ele adorou ter escutado o mar.
Xico Bizerra
ESCUTANDO O MAR
Ela foi, não havia como deixar de ir. Não queria, mas findou por ir, junto com os pais. O pretexto de conhecer o mar não lhe parecia convincente, mas incontestável se mostrava. Como ficar, sem pai, sem mãe, apenas com ele, seu amor, à espreita, aguardando uma chance? O mar? E ela queria lá saber de mar! Muito mais lhe aprazia os carinhos recebidos e testemunhados pela lua, só por ela. Mas estava lá o mar à sua frente, sem graça, totalmente imenso e insosso, uma coisa grande mas sem sal. De nada teria valido aquela paisagem não fossem as conchinhas recolhidas na areia para ofertá-las, como presente, quando voltasse. Ao recebê-las, ele levou aos ouvidos o presente e, da conchinha mais bonita, ouviu o mar, distante. Beijou-as, a concha e quem a trouxe de tão longe. Ela adorou ter visto o mar. Ele adorou ter escutado o mar.
Xico Bizerra
21 fevereiro 2011
ESTÓRIAS DE SEU DEUSIM...E OUTROS
ALUNO MUITO ATIVO
Meu avô, o professor José Bizerra de Brito (Professor Zuza Bizerra) era uma pessoa muito conhecida e admirada na região do Cariri. Gostava de conversar, de transmitir experiências e de aconselhar. Muitas vezes o ouví dizer: “Eu nunca ensinei para a escola; sempre ensinei para a vida.”
Mas a estória aqui aconteceu entre Ele e um seu aluno de origem simples, muito ativo e extremamente teimoso. Certo dia em que o aluno (muito ativo) havia exagerado em suas “danações” o Professor resolveu dar-lhe uns conselhos e concluiu dizendo: “Fulano, você é muito teimoso; teima tanto que eu tenho a impressão que você acha melhor uma teima do que um pires de doce de leite”.
Nesse ponto, o aluno muito ativo se saiu com essa pérola de resposta:
-“Prefiro mais antes uma tora de queijo.”
Meu avô, o professor José Bizerra de Brito (Professor Zuza Bizerra) era uma pessoa muito conhecida e admirada na região do Cariri. Gostava de conversar, de transmitir experiências e de aconselhar. Muitas vezes o ouví dizer: “Eu nunca ensinei para a escola; sempre ensinei para a vida.”
Mas a estória aqui aconteceu entre Ele e um seu aluno de origem simples, muito ativo e extremamente teimoso. Certo dia em que o aluno (muito ativo) havia exagerado em suas “danações” o Professor resolveu dar-lhe uns conselhos e concluiu dizendo: “Fulano, você é muito teimoso; teima tanto que eu tenho a impressão que você acha melhor uma teima do que um pires de doce de leite”.
Nesse ponto, o aluno muito ativo se saiu com essa pérola de resposta:
-“Prefiro mais antes uma tora de queijo.”
ESTÓRIAS DE SEU DEUSIM...E OUTROS
ALUNO MUITO ATIVO
Meu avô, o professor José Bizerra de Brito (Professor Zuza Bizerra) era uma pessoa muito conhecida e admirada na região do Cariri. Gostava de conversar, de transmitir experiências e de aconselhar. Muitas vezes o ouví dizer: “Eu nunca ensinei para a escola; sempre ensinei para a vida.”
Mas a estória aqui aconteceu entre Ele e um seu aluno de origem simples, muito ativo e extremamente teimoso. Certo dia em que o aluno (muito ativo) havia exagerado em suas “danações” o Professor resolveu dar-lhe uns conselhos e concluiu dizendo: “Fulano, você é muito teimoso; teima tanto que eu tenho a impressão que você acha melhor uma teima do que um pires de doce de leite”.
Nesse ponto, o aluno muito ativo se saiu com essa pérola de resposta:
-“Prefiro mais antes uma tora de queijo.”
Meu avô, o professor José Bizerra de Brito (Professor Zuza Bizerra) era uma pessoa muito conhecida e admirada na região do Cariri. Gostava de conversar, de transmitir experiências e de aconselhar. Muitas vezes o ouví dizer: “Eu nunca ensinei para a escola; sempre ensinei para a vida.”
Mas a estória aqui aconteceu entre Ele e um seu aluno de origem simples, muito ativo e extremamente teimoso. Certo dia em que o aluno (muito ativo) havia exagerado em suas “danações” o Professor resolveu dar-lhe uns conselhos e concluiu dizendo: “Fulano, você é muito teimoso; teima tanto que eu tenho a impressão que você acha melhor uma teima do que um pires de doce de leite”.
Nesse ponto, o aluno muito ativo se saiu com essa pérola de resposta:
-“Prefiro mais antes uma tora de queijo.”
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