24 janeiro 2011

UM BEATO PERFUMADO

Os beatos que conheci na década de cinquenta do século passado em Juazeiro, não tinham nada de perfumados. Eram homens magros, barbados, maus vestidos e fedorentos; se fossem beatas, não se distanciavam muito dessas características.
Lembro-me das pregações desventuradas do Beato José e de sua ojeriza a homens efeminados; quando os encontrava, vociferava: ¨Homem rapariga, você está no inferno.
Existiam outros que não me recordo dos nomes.
Da ala feminina só consegui lembrar da beata Júlia, que cuidava do urubu rei , remanescente dos viveiros de Padre Cícero.
Porém, nas primeiras décadas do século, habitou em Juazeiro um beato, que apesar de analfabeto exerceu sobre a comunidade, mais conhecida como Caldeirão, uma liderança sem precedentes na região: Joaé Lourenço. Essa liderança começou a surgir quando o Padre Cícero alugou um terreno de João de Brito, irmão de meu avô paterno, no município de Crato,
O sítio Baixa Danta estava semi-abandonado quando o negócio foi fechado. O beato mudou-se para lá e começou a fomentá-lo para receber romeiros ¨flagelados¨ que chegavam a Juazeiro de toda parte do Nordeste. Bastou dois anos para o Beato transformar o sítio numa verdadeira ¨terra prometida¨.
Segundo meu avô Britinho (Manoel Veira de Brito) o beato era um homem prático, de boa aparência, de conversa fluente e sociável. Conecia e visitava os ricos da época e também os recebia na sua comunidade. Quando algum deles se deparava com um problema agrícola ou agropecuário, já sabia onde ir buscar a solução.
Disse-me também, que quando o Beato estava na comunidade e sem visitas, vestia-se igual aos comuns e não encontrava rival no trabalho pesado; porém quando ía a cidade, ele mudava de figura: usava terno bem talhado, botas polidas, chapéu e muita água de cheiro. E, quando montado em seu cavalo ¨Trancelim¨, se aproximava, sentia-se logo o aroma de perfume importado.
José Ronald Brito

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