Carta de Mano para Napoleão. Esta carta faz parte de uma série de correspondências entre Mano em Santa Catarina e Napoleão em Barbalha CE.
São José, 19/06/2011.
Prezado Napoleão, um grande abraço.
Eu estava ontem no sítio, em uma noite fria de ceu claro e lembrei-mede vocês. Surgiu uma nova conversa entre Pacha e Urutau, que transcrevo a seguir.
Diálogo II
Olá Urutau, andas desaparecido?
-Pois é Pachá, você sabe que saio em noites de lua cheia, mas essa anda encoberta pelas cinzas de um vulcão no Chile, o que tem sido danoso para mim, pois o ar lá em cima tem cheiro azedo.
- Como assim Urutau?
-Da reação entre sulfeto de hidrogênio -(um dos gases do vulcão) e a água na atmosfera forma-se ácido sulfúrico que corroeu as minhas penas e isso tem sido um grande problema para mim.
- Para mim também Urutau, pois sinto arder o meu focinho, o que prejudica o faro e fica mais difícil caçar preá.
-Pachá, agora me diga como surgiram os preás e enfim, a vida na terra! -Essa é uma pergunta complicada Urutau, mas eu ouvi do Dr. Napoleão que a vida surgiu na água do mar, há cerca de 4 bilhões de anos atrás, quando algas iniciaram o processo de fotossíntese, com liberação de oxigênio molecular para a atmosfera e assim o planeta terra se tornou azul. A evolução continuou da água para a terra, e a cerca de 500 milhões de anos atrás, em um processo lento, chegamos aos seres sexuados e aos
mamíferos, como eu e os preás. Houve a separação do supercontinente Pangea e assim muitos bichos ficaram separados, mas diz o Dr. Napoleão que em cerca de 250 milhões de anos a Europa se unira a África. Portanto, o globo está se movimentando, a lua está se afastando de nós, o planeta está fervilhando por dentro e por isso ocorrem os vulcões, os terremotos e os grandes tsunamis.
- Pachá, você tem notícias de outras explosões vulcânicas?
- Sim, “no dia 27 de agosto de 1883 a ilha de Krakatoa (indonésia) desapareceu, quando um vulcão supostamente extinto entrou em erupção. Essa explosão é considerada a erupção mais violenta que o homem moderno já testemunhou. Os efeitos atmosféricos da catástrofe, como poeira e cinzas circundando o globo, causaram estranhas transformações em nosso planeta, como a súbita queda de temperatura e transformações no nascer e pôr do sol por aproximadamente 18 meses e levando até anos para voltar ao normal. Todas as formas de vida animal e vegetal da ilha foram destruídas. Por causa das explosões, vários tsunamis ocorreram em diversos pontos do planeta e perto das ilhas de Java e Sumatra as ondas chegaram a mais de 40 metros de altura”.
- Bem Pachá, a conversa está boa, mas por hoje é só e agora vou me abrigar na Chapada do Araripe.
- Boa sorte Urutau, pois segundo o Dr. Napoleão que é o guardião da serra, a natureza por lá está em perigo e por isso estou descendo para o sertão do João Vieira.
Obs.: Diz Mano: Pachá (um cachorro gordão que me acompanhava nas caçadas de preá no antigo João Vieira do Tio Quincas) e Urutau (uma coruja noturna também conhecida como Mãe da lua)), que também temos aqui no sítio e que sai somente em noites de lua cheia.
Marcos Aires de Brito
5 comentários:
Sobre Pachá e Urutau
Amigos,
vocês sabem que sou filho do sertão nordestino e já morando em Fortaleza eu costumava passar as férias de final de ano em fazendas no interior do Ceará. Quando não era na Malhada do Tio Mundinho eu ia para o Sertão do Brejo Santo/CE, na Fazenda João Vieira dos saudosos Tios Quincas e Mariinha.
Naquela época existia pelo menos 8 cachorros na fazenda e eles tinham uma certa hierarquia, começando com o Pachá que tinha acesso livre a cozinha e as dependências da casa. Outros cachorros ficavam pelo curral e acompanhavam os vaqueiros, outros pelo redor da casa, etc..
Desde a primeira vez que cheguei a Fazenda João Vieira, fiz amizade com os cachorros, o Tio Quincas me emprestou uma espingarda “soca-soca” e eu saia com 6 cachorros (2 trabalhavam no campo com os vaqueiros), incluindo o Pachá que insistia em me acompanhar. Na verdade esse cachorro me atrapalhava nas caçadas de preá, devido ao seu pouco treinamento para caça, não era preazeiro e sendo muito gordão e pesado, não conseguia pular as cercas de vara, nem encontrava um buraco para passar.
O Pachá era mesmo cachorro de sala e cozinha. Ficava choramingando, querendo passar uma cerca, ficava atrasado na caminhada e eu tinha que retornar para atender ao Pachá! Resultado: eu cuidava mais do Pachá que de caçar preás e quando algum cachorro acuava, lá ia o Pachá na frente requerendo a toca para ele e assim, era comum eu retornar para casa sem preá e às vezes trazendo o Pachá nos braços de tão cansado da caminhada! Entretanto, no outro dia lá estava Pachá me cercando e bastava eu pegar a espingarda que Pachá já ficava balançando o rabo e me chamando novamente para ir caçar preá.
Agora quero fazer uma correção, pois Cacainha postou a foto de uma Coruja Buraqueira e não um Urutau!
Ele também anda lá pelo nosso sítio e depois de muito procurar por ele, finalmente o descobri bem disfarçado, camuflado no toco de uma árvore centenária. Não foi fácil concluir que se tratava de um Urutau, ele estava bem no alto e tive que utilizar toda a minha paciência e experiência de passarinheiro e de mateiro.
Esse foi o caso mais difícil que já enfrentei para identificar “um passarinho”, pois ele canta (assobia) somente à noite, mas como eu costumava visitá-lo durante o dia, para conferir se ele ainda estava naquela árvore (um Cafezeiro do mato), ele se mudou e nunca mais o vi.
Para informações sobre Urutau visite o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Urutau
Marcos, 06/07/2011.
Oi Mano! Dá uma olhada no Blog. Já substitui as fotos. Foi dificil pra eu escolher as fotos pq não conhecia seus personagens.
Agora ficou bom Cacainha. Vejam a cara do mandrião Pachá! Essa é, pelas minhas lembranças, a melhor foto para ele. Note que eu uni o Pachá, que conheci no João Vieira, com um Urutau (que conheci em nosso sítio) e a conversa se passa no Saco (o sítio dos Tavares Neves na Serra do Araripe), que eu nem conheço! Pura imaginação de químico doido, como diria mamãe.
Marcos,
07/07/2011
Estou gostando, esse blog tá prá lá de bom. Quantas boas lembranças, agora, compartilhada com todos nós. Parabéns Cacainha pela iniciativa de criar o blog e aos seguidores com suas estórias e causos.
Tânia e demais seguidores - colaboradores do Blog AH.
Esse é o nosso estilo: informal, verdadeiro e, sobretudo com o espírito de amizade aos seguidores - colaboradores do Blog de Cacainha. Ela solicitou as minhas lembranças e eu as reproduzi em 3 momentos representativos de nossas vidas: em Pilões/PB, em nossa primeira infância; no Açude do Cedro (Quixadá/CE), em nossa adolescência e aqui em Santa Catarina, com os meus filhos. Espero que esses três momentos sirvam para quebrar o gelo e convidar a todos para compartilharem no Blog AH as suas boas lembranças. As duas primeiras a serem publicadas (O aniversário da boneca de Cacainha e Briga de galo) ficaram em aberto, para Cacainha e Tânia, respectivamente, completarem. Se preparem para acompanhar esses 2 casos e para completá-los, pois vocês fazem parte dessa história. Assim, imagino, que o Blog AH poderá se tornar interativo e interessante para todos nós.
Fiquem ligados no AH, pois teremos bons casos, alguns reais e outros imaginados.
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